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No Grajaú, lixo e mato escondem história de clube negro paulistano
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4 anos atrásdia:
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Grajaú News
Cinquenta pessoas que se sentiam discriminadas em locais de lazer da cidade fundaram o Aristocrata em 1961; local recebeu Michael Jackson e Ray Charles
A antiga e histórica piscina foi coberta pela terra. E o lixo, comum em muitas áreas do Grajaú, zona sul da capital paulista, tomou conta da antes badalada portaria do Aristocrata Clube, espaço voltado para o público negro que sofria com o racismo nos locais de lazer da cidade entre os anos 60 e 90. Se hoje não aparece um único funcionário da Prefeitura de São Paulo para pôr em prática o projeto de um parque público no local, no passado até 3 mil sócios dividiram a área com celebridades nacionais, como Wilson Simonal, Cartola e Milton Nascimento, e mundiais, como o grupo Jackson Five e seu caçula Michael Jackson.
Tudo começou no fim dos anos 50, quando um educado funcionário de um clube da elite paulistana, o Pinheiros, aproximou-se de Mário Ribeiro da Costa enquanto ele se preparava para entrar na piscina. De forma polida, alertou-o que um “preparado” usado na água poderia fazer mal a sua pele negra. Saiu de lá para nunca mais voltar e fundou, em 1961, o Aristocrata, agremiação com sede social no centro da cidade e a área de campo nas proximidades da represa Guarapiranga.
O lote, de 60 mil metros quadrados e então no meio do nada, foi comprado em 24 vezes (200 mil cruzeiros por mês) graças a uma vaquinha entre 50 famílias negras. “Nós não podíamos frequentar os clubes chiques da época, como Sírio Libanês, Esperia e Hebraica, que sempre davam alguma desculpa para não nos aceitar, mas mesmo assim sabíamos o que era qualidade. Muitos de nós fomos educados na casa dos quatrocentões paulistanos e nos sentíamos no direito de apreciar o que havia de melhor, de música a comida”, explica Marta de Oliveira Braga, atual presidente do Aristocrata.
Na área ainda se vê um campo de várzea – “Dávamos aula de futebol para as crianças carentes da região”, diz Marta – e o espaço onde ficava o salão, no qual eram feitas as concorridas festas anuais da cerveja e do chope, entre março e setembro. “Nossos eventos sempre foram muito disputados”, recorda.
No clube de campo havia também uma piscina, que não deixou vestígios no lote abandonado. “Nós almejávamos ter uma piscina e uma quadra de tênis. Na época muita gente dizia que a gente não conseguiria ter, que era muita pretensão”, disse o sócio-fundador Oswaldo de Souza no documentário Aristocrata Clube, de 2004. No mesmo filme, o ativista Genésio de Arruda diz que na década de 60 existiam vários clubes de lazer para a raça negra, mas o Aristocrata veio com a proposta de um local requintado. “Não eram sambistas, eram advogados, enfermeiros e até médicos. Queriam ser a elite entre os negros.”
Michael Jackson, Ray Charles e Cartola
Sem “preparados” químicos, a piscina e o clube todo tornaran-se point obrigatório de políticos, empresários, atletas e celebridades. Um de seus fundadores usou seus contatos e influência para reforçar isso.
O músico Agostinho dos Santos, famoso por cantar as músicas da peça Orfeu da Conceição e por, em 1962, apresentar a bossa nova ao mundo no Carnegie Hall, de Nova York, ao lado de Tom Jobim e João Gilberto, aproveitava os eventos musiciais de São Paulo para arrastar astros para o clube. Entre os mais conhecidos, Ray Charles e o futuro astro Michael Jackson, que, em 1974, pelo Jackson Five, fez uma série de apresentações no Pavilhão de Exposições do Anhembi, na zona norte.
Festas de debutantes, aniversários, feijoadas e inúmeros eventos transformaram o local em um dos principais clubes paulistanos. “Quem passava por São Paulo queria ir para lá, para curtir e encontrar outros negros influentes”, relembra Marta. Cartola, Elton Medeiros, Jair Rodrigues, Wilson Simonal e Milton Nascimento entram nessa lista.
Ela começou a frequentar o Aristocrata nos bailes de carnaval de 1978, levada por uma amiga. “O pai dela era sócio. Percebi que aquele local tinha muito a ver comigo e com minha cultura. Não saí mais.”
Marta acrescenta que em qualquer outro lugar não se sentia tão à vontade, ainda que fosse permitida sua entrada. “Nós sofremos uma discriminação bem mais dolorida e sutil do que as proibições. Quem são as pessoas que sofrem nas filas de vagas dos colégios públicos, por exemplo? São sempre os negros. A impossibilidade de acesso não precisa estar escrita em regra ou lei alguma.”
“Agora, as pessoas não têm sequer receio de ser preconceituosas”Marta de Oliveira Braga, presidente
Entre os fundadores do Aristocrata estavam também jogadores de futebol como José Carlos Bauer, ídolo do São Paulo, e Antenor Lucas, o Brandãozinho, da Portuguesa. Outros ex-atletas vistos sempre pelo clube eram Rosa Branca, bicampeão mundial com a seleção brasileira de basquete, e Luiz Carlos de Freitas, o Feijão, que ficou famoso menos por ter jogado por Palmeiras, Corinthians e Santos e mais por ter interpretado no cinema Edson Arantes do Nascimento no filme “Rei Pelé”, de 1962.
“O Pelé mesmo nunca foi ao Aristrocrata”, comenta a presidente. “Ele jamais teve uma identificação com a luta pelo preconceito, talvez por isso nunca tenha aceitado nossos vários convites.”
O clube deixou a zona sul em 1994, após grupos sem-teto invadirem parte do terreno, num período já de poucos sócios. “Foi ficando cada vez mais difícil continuar ali e acabamos desistindo”, disse Marta. O local foi comprado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), mas logo tomado por habitações irregulares novamente, um fenômeno comum na periferia da cidade.
Fechou a área de campo, mas a sede social seguiu no centro, na Rua Álvaro de Carvalho, com seu piano e shows intimistas de jazz e chorinho, até os anos 2000. Após sete anos sem atividade, ressurgiu em 2014 no Planalto Paulista, na avenida Piassanguaba, 3049. “Os tempos mudaram, mas o racismo continua forte. Ainda é preciso brigar por nossos direitos”, justifica a presidente. “Ando muito preocupada com a radicalização de hoje em dia. Agora as pessoas não têm sequer receio de ser preconceituosas”, analisa.
Pedido de CPI
A reportagem visitou a área ao lado do vereador Gilberto Natalini (PV), responsável por um dossiê que aponta que 90 áreas de Mata Atlântica da cidade estão sendo destruídas por invasões.
Natalini tenta aprovar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara municipal para investigar quem são os responsáveis pelos loteamentos e para cobrar a Prefeitura da cidade. “Infelizmente hoje eu estou sozinho defendendo o meio ambiente. As autoridades fazem vista grossa ao que está acontecendo, mas a conta logo vai chegar”, afirma.
O vereador também visitou na região do Grajaú o Parque Ribeirão Cocaia, aberto à população, mas com a aparência de abandonado, sem trilhas, jardim ou espaço para recreação. Cercado por invasões, o local é só um esboço da ideia original. “Aqui, um terço da área foi ocupada por moradias irregulares, agora impossíveis de retirar, e o outro terço não foi concluído”, diz Natalini.
No Ribeirão Cocaia, o número de seguranças contratados, 10 no total, era maior do que o dos 6 visitantes que haviam passado pelo portão do horário de abertura até o meio-dia de sexta-feira. “Quando vem muita gente não chega a 20 pessoas”, contou João, que fazia a guarda do local naquela manhã. “Aqui não tem nada, né, a população viria para fazer o quê?”, perguntou, sem resposta.
A Prefeitura de São Paulo afirma que o Aristocrata e o Ribeirão Cocaia integram a lista de dez novos parques inseridos no Plano de Metas da Municipalidade e devem ser entregues, completos, até 2020.
A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente diz que todo o valor previsto para a manutenção dos parques públicos, de R$ 63.668.080,81, foi utilizado, e que o orçamento para 2020 ainda não foi definido.

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