Alda Maria de Jesus de Almeida saiu de seu país ainda jovem, durante a ditadura salazarista, rumo a Moçambique. Os anos na então colônia portuguesa formaram a personalidade contestadora da jornalista, que depois faria carreira nas rádios do Rio de Janeiro.
Grande humanista, aliava rebeldia e indignação pelas injustiças sociais a uma doçura e empatia, descreve o filho André Almeida de Abreu. “Tinha grande capacidade de tolerar e enxergar a partir do outro.”
O colega Luiz Ferraretto destaca a “rara sensibilidade” e a “defesa constante da democratização do rádio e do uso do jornalismo em prol do Estado democrático de Direito.”
De maneira sensível e inteligente, mostrava caminhos em direção a um Brasil melhor, endossa o amigo Carlos Borges. “Deixa um legado, um pulsar ético, intenso e determinado”, afirma.
Com esse espírito intenso e rebelde, Alda subiu em árvores para evitar sua derrubada, andou com a camisa do Fluminense em dia de rebaixamento e se emocionou com José Saramago e a Portela.
“Foi com ela que aprendi a ter empatia pelo próximo, a respeitar e tratar com dignidade a todos. Mas também a nunca abaixar a cabeça quando não se concorda com a situação que aparece”, lembra o filho João Marcelo de Abreu.
Alda trabalhou nas rádios Fluminense, Globo e MEC e teve passagens pelos jornais A Tribuna de Niterói e O Fluminense. Segundo o marido, o também jornalista João de Abreu, as características do radiojornalismo e da esposa se confundiam. “Assim como o rádio, ela tem o companheirismo, a atenção compartilhada e a audiência de ser benquista e afetuosa.”
Foi professora na UFF (Universidade Federal Fluminense), na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e na Universidade Veiga de Almeida. O amigo Luís Carlos Bittencourt recorda da personalidade “alegre, com riso solto e contagiante” da “professora muito zelosa”, que inspirou alunos por onde passou.
O enteado Pedro Aguiar foi aluno e docente ao lado dela. “Alda não tinha sotaque português, mas fazia o melhor bacalhau com natas. Era alto-astral, levantava as pessoas, não ficava remoendo problemas. Botava ordem na casa”, lembra.
Ela era também ótima dançarina, fã de Paulinho da Viola e de “Senhor dos Anéis”. Devota de Santo Antônio, respeitava os orixás e era apaixonada por gatos, que resgatava —tinha seis em casa.
A jornalista morreu de parada cardíaca no dia 13 de abril, no Rio de Janeiro, aos 64 anos. Deixa marido, três filhos, um enteado e muitos alunos saudosos.